quarta-feira, abril 17, 2013

CADA MANÉ (COM SUA FÉ)


palpite
o grafite
é o limite

p.leminski

cada mané
com sua fé

cada maria
com sua mania

cada josé
com seu pelé

cada joanete
com sua elisabete

cada centavo
com seu escravo

cada arbusto
com seu augusto

cada pateta
com seu poeta

cada poeta vagau
com sua treta sacal

cada gata
com sua pata

cada cara pálida
com sua tara esquálida

cada corno manso
com sua dor no ganso

cada cinema
com seu poema

cada fraldinha
com sua maminha

cada fervo
com seu frevo

cada consulta
com sua jurisconsulta

cada pato
com seu sapato

cada extrato
com seu abstrato

cada pacto
com seu compacto

cada cabeça besta
com sua sentença funesta

cada crítico
com seu diacrítico

cada crítico raquítico
com seu tríptico sifilítico

cada paga pau
com seu não apaga nem a pau

cada cova rasa
com sua escova da nasa

cada arte de rua
com sua parte de sua

cada porte de arma
com seu capote de alma

cada sol
com seu lençol

cada gógol
com seu google

cada bacilo
com seu vacilo

cada pinote
com seu vinhote

cada velha seita
com sua cela estreita

cada cela estreita
com sua tela suspeita

cada celacanto provoca maremoto
com seu acalanto sem controle remoto


IJS (com parceria de FFR)

...

terça-feira, abril 09, 2013

Mais Byron, logo antes do arremate do Canto I do Childe Harold's Pilgrimage


PARA INEZ

                   1.
Não, não sorrias a meu cenho,
    Que eu já sorrir posso mais não:
E os Céus evitem que tu venhas
    Chorar alegremente em vão.

                   2.
Perguntas qual secreta dor
    Suporto sobre a Juventude?
E queres, vã, saber sabor
    De ardor que tu curar não podes?

                   3.
Não é o amor, tampouco é o ódio,
    Ou parcas honras de Ambição,
Que deixam podre este meu pódio,
    E me dispersam na amplidão:

                   4.
É o tal cansaço que desponta
    De todos que já ouvi e já vi:
A Beleza me desaponta;
    Teus olhos são sem charme a mim.

                   5.
É o tal eterno tédio fundo
    Que o Judeu Errante aturava;
Que nada vê a não ser a tumba,
    Mas vive agitação escrava.

                   6.
Que Exílio de si mesmo existe?
    A Zonas mais e mais remotas,
E inda assim me persegue o chiste –
    Na Mente o Demo toma notas.

                   7.
Mas outros parecem gozar,
    Saboreando o que larguei;
Ah, possam inda assim sonhar
    Sem acordar como acordei!

                   8.
Por tantos climas vai meu fado,
    Com tantas maldições e dores,
Que meu alívio é este ditado:
    “Venha o que vier, já estive em piores.”

                   9.
Mas quais piores? Nem perguntes –
    Por piedade aqui te abstenhas:
Sorria – as peças jamais juntes
    Do peito humano: Inferno e brenhas.


versão brasileira: Ivan Justen Santana

quinta-feira, abril 04, 2013

O MACHISTE & A EFEMINISTA

I

Era um sonho num consultório dentário,
Dantesco, extravagau, alucinário:

Numa poltrona não namoradeira,
A Efeminista aguardava, à beira

De um ataque de nervos, a sua vez;
O Machiste, também dali velho freguês,

Folheava uma revista fiu-fiu-menina,
Em busca de consolo a sua triste sina.

Entreolhavam-se, de instante a instante,
Amor de fábula, muito inconstante,

Enquanto lá dentro, sentada na cadeira
Quase elétrica do dentista, uma confreira

Submetia-se a um tratamento de canal:
Esperemos que a história não acabe mal.

II

Ninguém suspeitava que o dentista
Era uma orangotanga sofrendo da vista.


ijs

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CHOCOLATES SÃO PRESENTES

*
Chocolates são presentes
mais amargos quando são
envolvidos inocente-
mente em temas sem questão.

Mas a Páscoa já passou---
sexta-feira foi Paixão:
ou nos tomam por mim ou
não sei mais pronome não.

ijs

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