terça-feira, abril 26, 2011

TESTAMENTO DO MAU PERDEDOR

Solto o silêncio preso na garganta
sob este olhar severo de Cervantes:
em metade de mim o sacripanta
e o resto desde pois dobrou-se ao antes.

Enrolo a língua poética no espeto
(irreflexão que nem será mais minha);
não vou colecionar mais um soneto;
fico só com mais uminha quadrinha.

Vontade de embeber-me neste ar cênico
e impronunciar-me amargo ao filho meu:
o futebol, nosso rito ecumênico,
um dia todo inferno será seu.
*

sexta-feira, abril 22, 2011

QUADRA PATAFÍSICA DE TRANSFORMAÇÕES IMUTÁVEIS

Desvinculando-se da usina e da angra
dos reis desta realidade imediata,
singra sem medo, coração que sangra,
trata e retrata, desata e ata: empata.
*

segunda-feira, abril 18, 2011

Verão em Abril

o veranico de maio veio em abril
perfume duma flor que aqui jamais se abriu
palavras instrutivas a um falar fabril
o vocabulário gasto em ritmo febril
sinfoinacabada executada com brio
verso decadente que eclipse descobriu
dobre de cobre pobre sóbrio se cobriu
*

quinta-feira, abril 14, 2011

OSSA

O SÍMBOLO À SOMBRA DAS ARAUCÁRIAS
O SIM BOLO A SOBRA DAS ARAUCÁRIAS
O SIM SOLO AS OBRAS AS ARAUCÁRIAS
O SIM SÓ LÁ SOM BRADAS AR ACÁCIAS
OS IMOLA SOL MAS ABRASA AS CÁRIES
OS ÍNCOLAS SOMAM BRAÇAS SUASÓRIAS
OSSO ÍMÃ LAÇO ABRA ASAS SUAS RUAS

O SÍMBOLO
AS LOAS
AS ASSOMBRADAS ARAUCÁRIAS

O SÍMBOLO À SOMBRA DAS ARAUCÁRIAS
*

sábado, abril 09, 2011

DE, POR E PARA MEU FILHO IAN, DENTRO E FORA DO ÚTERO

Embaixo da piscininha do fígado,
à luz de lusco-fusco dos ovários,
sentindo o sangue quente que me irriga do
rim à vesícula e outros órgãos vários,

assim, aqui, antiaéreo, abrigado,
zútico, zoomórfico, zimbro, zênite,
benzinho, bem zen, banzai, obrigado,
xadrez criptógrafo via satélite,

sou simplesmente um sim em si, no alelo
paralelo a meu próprio paralelo.
Prazer verbal de meu pai não te amole,
ler e entender minha alegria é mole,

mole igual desmolecular moléculas:
enfim, vão-se os grãos, mas ficam as féculas.
*

quinta-feira, abril 07, 2011

Ressaca do "espetáculo" de ontem

Então foi assim:

- eu pensei que íamos fazer a abertura, preparamos uma série "breve" de sete canções;

- em vez disso, o plano da organização foi que tocássemos depois do Carlos Machado e das récitas do caro amigo Fernando Koproski;

- entramos nervosos: eu, pelo menos, estava uma pilha de nervos; meu comparsa William apresentava indisfarçavelmente o agravante da ingestão de álcool, para "acalmar"; já o Edílson, que só havia tocado duas vezes conosco, uma no "ensaio aberto" no Wonka (no meu aniversário) e outra no único ensaio que fizemos juntos, estava mais tranquilo;

- em vez de dar um intervalo de uns dez minutos, que eu devia ter chamado pra reunir forças e dar oportunidade ao público de se reagrupar, fomos lá e ansiosamente atacamos o primeiro número, enquanto metade do dito público se dispersava pela sala, pra conversar, aproveitar o coquetel, e assim nos providenciar um "caloroso" ruído de fundo (isso ajudou muito na nossa concentração e no entrosamento auditivo e de conjunto, sem retorno e isolados uns dos outros - mas nada disso justifica o nosso fiasco diante de quem teve a sacrossanta educação e paciência de permanecer na plateia);

- erramos muito em todos os números, com o agravante de estar diante da Lívia, compositora de uma das canções ("Nunca houve uma mulher como Gilda"); não anunciei título nem autoria da canção "Se o Marcos Prado fosse o James Joyce" (Rodrigo Barros / Thadeu Wojciechowski/ Ferreira / Renato Quege / Sérgio Viralobos / Edílson Del Grossi); consegui confundir até o Filippo, que veio pra curtir e a quem depois tive que explicar que a Lívia não é autora da nossa versão de "Like a Rolling Stone" ("Como uma pedra rolante"), a qual executamos com requintes de crueldade, desconcatenação e desentrosamento;

Portanto:

será este o triste fim
dos Dublês de Dublin?
Talvez não, mas quem sabe sim:
eu, de minha parte,
não me convidaria mais pra tocar em lugar nenhum,
quanto mais num museu de arte.

Não obstante, sem amor nem ódio,
percam (ou não) o próximo episódio.

segunda-feira, abril 04, 2011

Dublês de Dublin, quarta à noite no MGV

Compareçam essa semana toda, de segunda a sábado, às 20h, no Museu Guido Viaro (tel. 3018-6194, Rua XV de Novembro, 1348, em frente à Reitoria).

Bons eventos em toda a programação da Semana Literária do MGV, com apresentação dos Dublês de Dublin na quarta-feira (na divulgação oficial, saímos com o "nome falso" de Ivan Justen Trio, mas para saber mais sobre isso vocês vão ter que aparecer por lá...).

Enfim, ao vosso gáudio imediato, segue aqui uma letra de canção de Ivan Justen Santana e William Teca, mentores intelectuais dos Dublês de Dublin.

CRIME PERFEITO

Sei que pra você sou só um brinquedo
Mas quando você brinca assim sinto medo
Do seu jeito
O crime é perfeito
Você planeja e executa
E eu é que fico suspeito

Não sei mais
O que fazer
Pois você fez a magia
Sumiu e não me fez desaparecer

Sei que você guarda algum segredo
Mas brindo ao seu desejo tredo e ledo
Nossas cartas
Estão marcadas
Mas mesmo sabendo disso
Mesmo tendo certeza
Eu jogo assim mesmo