quinta-feira, dezembro 29, 2005

Tudo que você queria

Você queria postar um poema para sua "Musa Urânia", porque ela é muito amiga e lhe deu um bom conselho.
Você queria escrever sobre si mesmo diretamente, em vez de usar esse truque retórico aprendido lendo gibi do Mestre do Kung Fu.
Você queria controlar seus impulsos primitivos e suas pulsões autodestrutivas.
Você queria assimilar finalmente que não adianta ficar querendo as coisas sem fazer os esforços necessários para elas acontecerem.
Você queria que o vinho não tivesse acabado dez minutos atrás.
Você queria acender um cigarro ou dois...
Você queria não usar reticências pra dar a entender tudo aquilo que quem ler não vai ter uma idéia completa do que é...
Você queria não lembrar da frase que sua filha construiu "ela sempre não fazia isso", quando você a corrigiu, ensinando o uso da palavra "nunca", sendo que o que você queria e devia mesmo era ensiná-la a nunca usar a palavra "nunca"...
Você queria estar num lugar sempre nunca, junto com a sua nunca, aquela que romanticamente é sua nunca de sempre, e que você nunca sabe definir nem sabe mesmo amar como nunca.
Você queria saber amar, você queria saber se livrar das suas babaquices, da sua congênita falta de educação, da sua vontade de ser o que não é.
Você queria parar com essas postagens golcontra típicas desse período de festas quando quem está triste fica ainda mais triste.
Você queria.
Mas não pode.
Bem feito pra você.

sábado, dezembro 24, 2005

- Bom dia...
- Péssimo dia pra você também...
- Eu sei...
- Sabe?
- É: posso dizer?
- Se você insiste...
- Bom: você acordou com aquela sensação.
- Qual delas?
- Aquela uma que você tem curtido muito ultimamente...
- Desenvolva, elabore, ou melhor: desenrole...
- É assim: sensação de "tudo errado": você acorda e vê que está no lugar errado, na hora errada, na situação errada, e aí num átimo você sente que fez tudo errado, retroativamente até pelo menos três anos atrás, e aí pensando melhor você recua uns sete anos atrás, e percebe (ou experimenta) um gosto de que sua vida tem sido um erro (uma patetice, uma tolice, etc) seguido por outro, e mais outro e mais outro...
- Pois é.
- Gostaria que você não olhasse mais pra mim...
- Tá: vou sair da frente do espelho antes que ele quebre...
- Certo: tenha um péssimo dia!
- Você também: tenho certeza que vai ser pior que você pensa!
- Incrível como a gente consegue concordar, mesmo sendo a mesma pessoa...
- É verdade: vê se bagunça um pouco mais essa nossa vida por nós, hein?
- Deixa comigo...

terça-feira, dezembro 20, 2005

Postagem de Registro

Um quarto de caminho andado:
eu tinha que ter embarcado
de qualquer jeito:
eu sei, foi um gesto atabalhoado,
mas se eu estivesse menos apaixonado
não teria feito.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Dias estranhos

dias estranhos nos acharam
dias estranhos nos rastrearam pelo faro
eles vão destruir nossa alegria
de cada dia
temos que seguir tocando
ou achar outra freguesia

olhos estranhos
preenchem quartos estranhos
vozes vão sinalizar seu final cansado
a hospededeira está sorridente
seus hóspedes dormem após o pecado
me escute falar em pecado
e você saberá que é isso aí

dias estranhos nos acharam
e através de suas horas estranhas
vamos permanecer solitários
corpos confusos
memórias abusadas
enquanto fugimos do dia
até uma noite estranha
de cara chapada

(decalque brasileiro de Strange Days, dos Doors)

domingo, dezembro 18, 2005

Horror e rancor de um perdedor

Bom: poderia ser pior? Até poderia, mas do jeito que está se piorar pode até ser que melhore. Vou falar de futebol de novo. E não tem poesia. Acabei de ver a vitória do são paulo: assisti só o segundo tempo, e não vi um chute a gol do time bambi do bairrinho rico da megalópole: passaram 45 minutos sendo massacrados, e quando não foi a incompetência dos atacantes adversários, o juiz anulou dois gols legítimos: porra, não adianta protestar: o goleiro rogério ceni até fez por merecer, catando duas ou três bolas difíceis: já o goleiro do liverpool podia ter jogado de centroavante, porque o futebol brasileiro deu uma aula de retranca, bola pro mato e antijogo... Constatei no replay que foi Aloísio (o mesmo que defendeu o nosso Atlético Paranaense contra o próprio são paulo na Libertadores) quem fez o passe perfeito que furou a defesa do time "piscina de fígado" (liverpool), para o gol paulista, ironicamente assinalado pelo jogador que atende por "mineiro". Certo, Rogério Ceni é paranaense, até onde eu sei, mas isso é mero detalhe: enfim, merecida a conquista "brasileira", do mesmo jeito que na copa de 2002, quando contamos com a ajuda do apito pra vencer a turquia na primeira fase, e a bélgica nas oitavas: é isso aí, na copa de 62 também ganhamos roubando, e assim a humanidade faz a sua caminha... Tenho certeza que se o time inglês tivesse a chance de ganhar roubando (com a influência de um cartola tão honesto quanto ricardo teixeira, que estava lá curtindo de perto) não hesitariam. Um brinde à miséria humana.

sábado, dezembro 17, 2005

Pra minha musa da tragédia

Minha musa da tragédia me deixou.
Levou sua beleza própria
e também a nossa belezinha feita em casa.
Levou sua raiva e sua personalidadezinha difícil.
Deixou só umas tragédias pra eu matar no peito.

Hoje é um dia bem apropriado pra cantar
a minha musa da tragédia.
O dia nasceu azul e vai se acinzentando,
estou me sentindo banalmente triste,
aquela velha tristeza de se achar o último e pior.

Me ataca também,
feito um pronome oblíquo no início da frase,
a dor na consciência por ter machucado tanta gente,
que na verdade é a dor
de ter me machucado a mim mesmo, somente.

De repente aparece uma rima,
súbita surge uma lindeza aqui ou ali,
mas esse canto tem que ser feio, mal feito,
feito só do jeito que eu posso fazer agora:
porca,
irregularmente,
com cara de nenhum amigo.

Isso porque eu ia cantar a minha musa da tragédia
e só consigo mesmo me queixar,
falar de mim,
falar dos próprios versos que vou arrematando,
matando, atando, arre:
nenhum trocadilho que preste pode salvar
ou redimir por um mínimo instante
este pretenso poetastro
que tenta cantar mais uma musa ausente.

Melpômene, Melpômene:
teu nome quer dizer "melodiosa",
também sinônimo de "coro":
quanta ironia:
usar esse tom antimusical,
esses versos capengas,
esse perrengue poético,
esse sentimento de não ser capaz de nada melhor,
pra homenagear você,
minha Melpômene de vila, de subúrbio,
de cu do mundo mesmo.

Mas eu não posso parar de me arrastar,
sub-repticiamente,
com todo esse vocabulário crocodiliano,
com todas essas lágrimas de lagartixa,
evoluindo não pra trágico antagonista,
mas pra anta agonizante.

Pronto.
Eu sei que ainda podia ser pior,
mas está péssimo já do jeito que está.

Na pretensão de escrever um poema em linha torta,
quebrada,
amarfanhada,
fica aqui pra todos botarem defeito
a repetição desrepetida da tragédia
que ando encaçapando no peito:
a musa eu rebati pra linha do escanteio:
não consegui: chamei e ela não veio:
se fiz outro poema horrível,
então vai um poema e meio:

assim
não tem mais poeta em mim:
matei-o.

domingo, dezembro 11, 2005

Museu

Filho de Antífemo (ou de Êumolpo) e de Selene (a Lua), e discípulo de Orfeu (ou seu amigo, ou mestre, ou filho, ou apenas contemporâneo ou alguém que passava ali num momento de distração, conforme as fontes).

Era considerado um músico exímio, a exemplo de Orfeu, de quem talvez fosse apenas uma duplicação ou um sósia, ou um clone, ou um Doppelganger capaz, como este último, de curar os doentes e fazer os animais dançarem e as pedras cantarem e as nuvens se autoesculpirem em forma de partituras gordas e o sol nascer redondinho redondinho bem cedinho com sua música.

Ele seria também adivinho e se lhe atribui (notem-se os pronomes bailando: e se lhe atribui: como é linda a gramática quando se nos acontece...) a introdução dos mistérios eleusínicos na Ática.

[Transcrição comentada por mim mesmo do verbete Museu (G. Musaios). do

DICIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA E ROMANA

KURY, Mário da Gama. Jorge Zahar Editor, sem data.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Tempo das Musas

Dias estranhos nos encontraram...
(Strange days have found us...)

Ah: outro dia eu pósto a tradução dessa canção dos Doors -
por sinal, feliz aniversário para James Douglas Morrison...

O caso é que o mundo insiste em girar mais rápido que minha digitação catamilhesca e minha atitude estilo bicho-preguiça com dengue, então não comentei duas coisinhas fofas sacramentadas no domingo passado, a saber:

a queda do time coxinha pra segunda divisão, e a colocação do Atlético como melhor clube paranaense nesse conturbado campeonato brasileiro.

Porém, eu vinha numa onda de poemas para as minhas musas e ainda nem fiz o primeiro tchan, que dirá o tchum...

Enfim, como um bom vagau, pesquisei num dicionário de mitologia sobre as nove musas, filhas de Mnemosine (a Deusa da Memória) e do todo-poderoso Zeus: senão vejamos:

Calíope - Musa da Poesia Épica

Clio - Musa da História

Erato - Musa da Poesia Lírica

Euterpe - Musa das Flautas

Melpômene - Musa da Tragédia

Polímnia - Musa dos Hinos Sagrados

Talia - Musa da Comédia

Terpsícore - Musa da Dança

Urânia - Musa da Astronomia


Depois de quebrar muito a cabeça (e a cara), consegui escalar uma seleção de musas da minha vida que corresponde a esse time grego, pelos devidos motivos:

mas essa lista fica pra depois: por enquanto é só.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

As últimas horas do começo de todos os tempos

Bom:
faz tempo que não apareço,
então aí está uma postagem impromptu,
sobre esta noite,
ou melhor,
ontem à noite:

eu ontem fui ao Wonka,
beber umas d(ó)sinhas:
confesso que gostei
de ambas as cozinhas:

a cozinha do bar
nos serviu uma bruschetta à mexicana,
pra esquentar a cerveja na garganta:

e a cozinha de baixo e bateria
(com Rubens K e meu querido amigo Xeque-Mate)
preparou cama mesa & banho
pro (tenho que admitir, embora o egão poético aqui chie e se contorça) grande poeta, tradutor e violonista
Rodrigo Garcia Lopes,
da benfazeja Londrina...

Muito bem,
chega de rasgar toda essa seda:
poesia, poetas & poetisas
me perseguem pela alameda:
saio pela esquerda:

ressaca, dor-de-cabeça,
febre, delírio hipnótico
e muita dita e ouvida merda.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

De ressaca a gente sofre melhor

hoje acordei e não vi você de novo:
eu nunca te vejo:
por isso, vou postar tudo isso
em versos invisíveis

quarta-feira, novembro 30, 2005

Meu Set List desta noite...

Rã da Paz (Peace Frog - J.Morrison/TheDoors)
versão brasileira por Ivan Justen Santana, Marcos Prado de Oliveira & Edilson Del Grossi.

O lado escuro da rua (Walk on the wild side - Lou Reed)
versão brasileira por Marcos Prado de Oliveira, Edson de Vulcanis & Ivan Justen Santana.

Begônias Silvestres
Marcos Prado de Oliveira

Síndrome de Don Juan
Marcos Prado de Oliveira, Sérgio Virallobos
(música do Ferreira, mas eu não vou cantar [será?])

Instruções para morrer bem no elevador
Ivan Justen Santana, Marcos Prado de Oliveira

segunda-feira, novembro 28, 2005

Breve interlúdio

(com mais dois motivos pra relaxar bem pouco e muito furiosamente):

Show com Sonic Youth, Iggy Pop, e uma pá de bandas boas:
não fui (passei por São Paulo na semana anterior);

Festerê de poesia no Circo Voador, com "todo mundo":
não fui (estive no Rio no fim de semana anterior).

Tamanha sem-noção-zice de tempo e lugar é realmente perfeita pro pateta aqui, que tem pensado em esquartejar-se em pedaços e se espalhar por essa vida de amores distantes...

sexta-feira, novembro 25, 2005

À Minha Musa da Selvageria Elegante

Já fiz uns versinhos pra ela,
Não custa fazer outros mais –
Então salta uma oitava redonda
Daí vejo que bicho vai dar:

Pra defini-la em palavras
O jeito é ensairventando:
Trocando estes neologismos,
Depois retrodestrocando:
Porque ela é bem selvagante
E, além, ela é elevagem:
Selvagemente elegante.
Elegantemente selvagem.

Ela quebra até o pé dos meus versos,
Me gela a medula nos ossos,
Mas graças aos seus incentivos
Me juntei dos meus destroços,
E, aos que nunca a viram, canto:
Estes moços, pobres moços.

Assim, num final em quadrinha,
Minha observação vai capenga e sincera,
Contestando o grande poeta Augusto:
Ingratidão não é esta pantera.

terça-feira, novembro 22, 2005

Epígrafe para a série das Minhas Musas

um poeta sem uma musa
está mais perdido que Homero cego
na cama com a Medusa

(não percam os próximos episódios...)

segunda-feira, novembro 21, 2005

Postagem para o primeiro dia do resto da sua vida

Chega de conversa:
enjoei da prosa e resolvi que,
já que hoje é aniversário de uma das minhas musas,
voltarei a postar poemas,
tentando contemplá-las todas nessa nova seqüência.

Bom: eu sei que vou causar consternações,
ciúmes, desprezos, paixões, loucuras,
ou ainda uma máxima indiferença,
mas aí vou eu:
como diria Leminski,
a prosa é uma deusa que só diz besteiras
e fala de coisas como se novas:
assim,
eis umas rimas em tom de velhas conhecidas...


A MINHA MUSA DA AMIZADE

o que mais esperar
daquela que nunca vai tarde?
o que mais querer
da sua generosa amizade?

nada, musa artista e restauradora,
nada, musa amiga e companheira:

hoje eu não te peço nada -
também nada te ofereço:
hoje é o teu aniversário
e tua graça não tem preço -

na verdade, um quase nada,
um quasezinho de nadica
hoje, agora, aqui eu te deixo:

esses versinhos de franzir a testa,
erguer a sobrancelha, torcer o narizinho,
abrir a boquinha e derrubar o queixo.

***

Eu avisei a ela pelo telefone que ia postar um presente de aniversário:

ela disse: "não me comprometa!"

eu dei risada, disse: "claro que não! hahahaha"

e agora vou fazer de tudo pra comprometê-la...

Então vou postar aqui na seqüência um poema acróstico,

feito para ela por um amigo nosso,

também poeta como eu e também artista plástico como ela...


Tens nas pequenas mãos
A beleza da restauração.
Natureza poderosa!
Isso de que carece a vida
A cada segundo partida.

Sérgio Augusto

sábado, novembro 19, 2005

Amaciando à moda da casa

Muito bem: eu realmente não contei nada do périplo em que estou empenhado, viajando ao Rio de Janeiro feito no ano passado, para o aniversário da minha filha: cinco anos neste 2005.

Eu também não postei que no mesmo dia (17/11) fazem aniversário dois grandes amigos meus (descobri graças ao orkut):

Walmor Góes, monstro da guitarra, que eu, feito um bom ingênuo, nem me tocava que também (a exemplo do Leminski e do Thadeu) tem sangue de polaco;

e o Luís "Baiano", um amigo da minha turma no início dos anos 90, tempo cheio de travessuras e desventuras na casa do Gunther, da Lupe e da Teresa, gente que até hoje eu admiro pelas posturas e atitudes intelectuais e humanas...

Enfim, depois de passar este ano meio obcecado com Ipanema, passeei por essa praia, "até o Leblon... E quando eu lhe telefonei, desliguei foi engano, teu nome não sei: esqueci no piano as mentiras de amor que aprendi com você, é..."

Enfim, tudo convolui, arredonda-se e flutua, como a Lua, e qualquer uma certa aquela melodia de Jobim:

agora é hora de embarcar de novo, meditando no destino e dançando um fado:

porque te blogar sempre é preciso,

mas viver não me é mais tão necessário,

tampouco suficiente,

diferentemente.

Uma puta verdade

Eu queria começar porrando logo um palavrão duma vez, mas nem as imprecações podem me salvar.

Eu queria era fazer um mea culpa (aliás, eu acho que esse blog deveria passar a se chamar mea culpa, ou eu devia ter a mínima pachôrra pra fazer isso, não custaria nada, mas a preguiça...) pra muitas pessoas:

o primeiro "mea culpa" devia ser pro Fernando Koproski, por eu ter sido algo babaca demais em pelo menos duas ocasiões... Mas tudo bem, foda-se: pensando melhor, se for assim tenho que começar muito antes, porque faz tempo que eu tenho sido um babaca com a minha vida e com os cleguinhas e as coleguinhas que me cercam, desde o tempo da escola primária...

o segundo "mea culpa" devia ser pra minha família, mas aí, como eu sou mesmo incorrigível, eu ia ter que dizer tudo que penso da minha mãe, do meu pai e de você, e em vez de me desculpar começaria a tacar chumbo em deus e o mundo...

eu tenho sido mesmo vil, no sentido mais mesquinho da vileza, mais que o "canalhinha" do fernando pessoa, que era muito boa gente perto de "poetas" do meu tipo...

aliás, falando em poetas, acho que o único a quem eu posso mesmo fazer um "mea culpa" é o thadeu wojciechowski, porque ele também foi babaca e arrogante comigo, com toda a justiça: então me desculpe, thadeu, por eu ter tentando ser mais babaca e arrogante que você: hahahaahaha: que puta desculpa...

merda: chega: eu tinha mais era que postar isso e mais umas poucas e boas, mas agora é hora das umas e excelentes...

quarta-feira, novembro 16, 2005

Londrina continua do jeito que eu imaginava...

Londrina é uma cidade cheia de subidas e descidas.
Londrina tem metade da população de Curitiba e o dobro de sua agitação cultural.
Londrina tem um cybercafé na sua rodoviária: a rodoviária de Curitiba ainda está na era do telefone público...

No cybercafé de Londrina não tem café, e os teclados estão fora de configuração: mas é muito baratinho.

Hora de embarcar: deixo em Londrina muita poesia em estado bruto: puro estilo jato de sangue: e isso é bem menos que eu queria dizer....

quinta-feira, novembro 10, 2005

Horribilissimamente

Esta vai ser mais uma postagem pouco aproveitável:
outro poeminha com trocadilhinho estúpido cupido,
pra combinar com meu estado emocional:


hoje em dia o mar não tá pra rocha:
então encosta tua luazinha
ali na minha vinha

e desabrocha

terça-feira, novembro 08, 2005

Feliz Aniversário

Hoje meus dois irmãos (olha só como o Rio me persegue) fazem aniversário: um faz 30 e o outro 34.

Hoje eu queria postar algo interessante, estou com três traduções inéditas no gatilho, mas não deu aquele barato de editar os textos com cores diferentes...

Hoje eu não queria ter escrito hoje - parece canção pop isso...

Então vou me sair bem mal, com trocadilhinhos ridículos:


eu quis fazer um poema Safo,

só que uma Frieda pisou no meu Kahlo:

enfim, por que gritar -

se até Maria Callas...?

sexta-feira, novembro 04, 2005

Cantarolando e digitando abstrusidades

"Eu sei que eu ando bebendo demais:
Você já me disse -
Eu sei que eu ando caindo no chão
E que isso causa uma má impressão..."

Pois então: hoje não tem poema traduzido, não tem poema original, não tem chantagem emocional confessional barata implorando comentários que não vão aparecer:

hoje não tem frevo
tem gente que passa com medo
e na praça ninguém pra cantar...

Hoje só tem eu aqui sentado encolhido num canto cantarolando Wander Wildner, Edu Lobo e a banda catarinense Stuart (canção: Pergunte ao Pó)...

E pra fechar, um TNT clássico:

se quiser saber o resto da história:
ZERO

terça-feira, novembro 01, 2005

And now, for something completely different (?)

Vinhote

A uva é minha mãe mulata
Neste embranquecido campo congelado. O venoso interior dela
Pendura-se quente aberto para que eu reentre
Na vidraçaria cor-de-sangue contra a qual o mundo pedra
Adelgaça até um orvalho e se esfumaça –
Não diluindo nem minha caneca de sangue
Nem sua negra subcorrente. Eu me avolumo ali dentro, encharcando.
Até que a uva por pura saciedade de mim
Vomita-me de volta. Sou encontrado
Frágil feito um bebê, mas rejuvenescido.

Ted Hughes (1967)
Tecla sap:
Ivan Justen Santana (2005)


Wino

Grape is my mulato mother
In this frozen whited country. Her veined interior
Hangs hot open for me to re-enter
The blood-coloured glasshouse against which the stone world
Thins to a dew and steams off–
Diluting neither my blood cupful
Nor its black undercurrent. I swell in there, soaking.
Till the grape for sheer surfeit of me
Vomits me up. I´m found
Feeble as a babe, but renewed.

sexta-feira, outubro 28, 2005

Numa nuvem chapada, emaconhado e bêbado...

Numa nuvem chapada, emaconhado e bêbado, pensei que se um viajante, numa noite de inverno, lesse um blog em voz alta para sua neta, então teria valido a pena, e a alma, que nunca foi pequena, seria enfim mais do que é, senão vejamos:

(complete a frase, e não vale não falar de amor)

quinta-feira, outubro 27, 2005

Tripolarmente...

Hoje é aniversário de Sylvia Plath: ela faria 73 anos...

Ei: eu nasci em 73...

Tá: sei que não tem nada a ver, mas esse tipo de coincidência numérica desencadeia abalos sísmicos de altíssimo grau nos meus sistemas nervosos centrais e periféricos...

Então vamos homenagear tudo isso com trinta segundos de silêncio contrito, seguidos de quatrocentas horas ininterruptas de júbilo e fuzarca, regados com todos os estupefacientes desnecessários e insuficientes!

Saúdes!

terça-feira, outubro 25, 2005

De volta à senda do crime

Aí: já que minhas chantagenzinhas emocionais irônicas não fizeram nem tchuns e passaram sem comentários, decidi reencarnar o Ladrão de Postagens.

Assim, aqui vai um poema surrupiado do meu amigo

m.m.cardozo


filigranas

boca acuada nos vãos da escada
mão sem regras na pasta de dente

dedos forjados na imperfeição do sabonete
gesto riscado na toalha do banheiro

gemido abafado no fundo do gaveteiro
risada dobrada no armário embutido

olhar apagado na mancha do vidro
sorriso de castigo atrás do espelho

lábios contidos no cigarro vermelho
dois sonhos de molho no cabideiro


(do livro inédito texturas, seção doces rútilos)

sexta-feira, outubro 21, 2005

O QUE EU DEVO DIZER, O QUE EU QUERO DIZER, E O QUE EU DIGO

Eu devo dizer que tenho andado mais que fraco: fraquinho.
Tenho falado tão pouco, tão pouco: feito um anão pequenininho.
E tenho caído mais que de bêbado: exaustozinho.
Eu devo dizer também que devo mais dinheiro que tenho: afinal, eu também sou um brasileirinho: só que pior: tenho andado sozinhozinho.

Eu quero dizer que te quero muito, mas menos mal que só um pouquinho: quero dizer mais (e melhor), mas deveria ser mais que fraco: franquinho.
Eu quero dizer tanta coisa, mas não dá pra justificar mais nada: sobrou só uma casca (que agora escreve): sobrou só a vontade de parar de digi

*

Eu digo que nunca paro: paródia dum fim sem começo: e assim ainda sempre fica sobrando a chance de continuar indefinidamente rimando em inho: e aí eu binho cinho dinho finho ginho hinho inho jinho kinho linho minho ninho oinho pinho quinho rinho sinho tinho uinho vinho winho xinho yinho zinho

e encho a carinha de vinho.

terça-feira, outubro 18, 2005

O tao de Ivan

citando de memória uma lição de lao tsé:

"Aquele que não sabe, e sabe que não sabe,
é HUMILDE: guie-o;

aquele que não sabe, e pensa que sabe,
é um TOLO: fuja dele;

aquele que sabe, e não sabe que sabe,
está DORMINDO: acorde-o;

aquele que sabe, e sabe que sabe,
é o MESTRE: siga-o."

Fundamentado nesses princípios, enuncio agora o incompossível

TAO DE IVAN

Eu sou quem não sabe que sei mas não sei:
logo: sou CONFUSO: me oriente!

Eu digo sim ao não que não é o não do sim:
assim: sou CONFUSO MESMO: me embebede!

Eu amo quem me ama e quem não me ama:
sou realmente um AMOR: me encontre...

Eu tenho medo do meu medo e ódio do meu ódio:
portanto, finalmente: estou PERDIDO:

cadê você?

segunda-feira, outubro 17, 2005

Pingos do meu secreto dicionário amoroso

*
Lonjura - Distância entre pessoas que se amam: seja de que tamanho for, a lonjura é sempre muito grande, podendo entretanto ser vencida instantaneamente por um semimínimo pensamento amoroso infinitesimal.

Breve comentário enciclopédico: Na verdade, lonjura é uma palavra-valise que carrega dentro de si as palavras "loucura" e "jura", entre outras.

domingo, outubro 09, 2005

Minhas entranhas traduzidas: sirvam-se!

*
Prometheus in His Crag
Prometeu em Sua Fraga


Pondered the vulture. Was this bird
His unborn half-self, some hyena
Afterbirth, some lump of his mother?


Ponderou o abutre. Seria esse pássaro
Sua meia-essência não-nascida, algum pós-
Parto de hiena, algum inchaço de sua mãe?

Or was it condemned human ballast -
His dying and his death, torn daily
From his immortality?

Ou seria o condenado humano lastro –
Seu morrer e sua morte, dilacerados dia a dia
De sua imortalidade?

Or his blowtorch godhead
Puncturing those horrendous holes
In his human limits?

Ou sua cabeça-deus-flamejante
Puncionando aqueles buracos horrendos
Nos seus limites humanos?

Was it his prophetic familiar?
The Knowledge, pebble-eyed,
Of the fates to be suffered in his image?

Seria o seu íntimo profético?
O Conhecimento, petrioculado,
Dos fados a serem sofridos em sua imagem?

Was it the flapping, tattered hole -
The nothing door
Of his entry, draughting through him?


Seria o palpitante, esfarrapado buraco –
A porta nonada
De sua entrada, soprando-lhe através?

Or was it atomic law -
Was Life his transgression?
Was he the punished criminal aberration?

Ou seria a lei atômica –
Seria a Vida a sua transgressão?
Seria ele a punida aberração criminosa?

Was it the fire he had stolen?
Nowhere to go and now his pet,
And only him to feed on?

Seria o fogo que ele furtara?
Sem saída e agora seu mascote,
Restando somente ele de alimento?

Or the supernatural spirit itself
That he had stolen from,
Now stealing from him the natural flesh?


Ou o próprio espírito sobrenatural
A quem ele furtara,
Agora furtando-lhe a carne natural?

Or was it the earth's enlightenment -
Was he an uninitiated infant
Mutilated towards alignment?

Ou seria a iluminação da terra –
Seria ele um não-iniciado-infante
Mutilado até o alinhamento?

Or was it anti-self -
The him-shaped vacuum
In unbeing, pulling to empty him?


Ou seria o anti-ente -
O vácuo em forma dele
Em inessência, puxando para esvaziá-lo?

Or was it, after all, the Helper
Coming again to pick the crucial knot
Of all his bonds?

Ou seria, afinal, o(a) Auxiliador(a)
Voltando novamente para bicar o nó crucial
De todas as suas correntes?

Image after image. Image after image. As the vulture
Circled.

Circled


Imagem após imagem. Imagem após imagem. E o abutre
Circulava.

Circulava.


Ted Hughes

Versão Brasileira:
Ivan Abutre & Priscila Prometéia

domingo, outubro 02, 2005

Será que ela vai se ver aqui?

Vermelho, o verde dos olhos.
Verde, o vermelho dos lábios.

Vermelho e verde, o sinal: vai
passar o amor. O amor do pai,
ator e autor da sua felina
feminilidade cristalina.

Verde e vermelha, a planta:
versificá-la não adianta
se é melhor no colo dela pousar.

Silêncio, leve silêncio:
cio que se evola

num perfume perfeito
que perfura o ar.

sábado, outubro 01, 2005

OUTUBRO OU NADA

Bom: Primavera é uma estação pra começar do começo, então vamos começar tudo de novo.

Exercício 1: Complete, revise ou adapte pro cinema o seguinte poema, de autoria não confirmada de Alexandre França e Ivan Justen Santana (participação especial de Cláudia Becker):

Estou com o fígado até o pescoço da tua virtude:
cansei do teu porre total de sobriedade:
já mandei minha saúde na saudade
descolar um bandeide
pra poder sangrar à vontade

terça-feira, setembro 27, 2005

A volta do retorno da reaparição do Ladrão de Postagens

Com essa língua cheia de palavras
Embrutecidas por cafés e nicotinas
Bolino displicentemente
Frestas vespertinas

Acaricio as arestas dessa tarde
Deliciosamente chuvosa
Ardorosamente gentil

E arranco-lhe por entre as pernas
Aos gemidos
Uma rima pobre
Quase primaveril

(esses versos foram furtados de um comentário de Luana Vignon, que participa do blog Stultífera Nave, onde fui linkado sem a desnecessária autorização: isso foi um ultimato unilateral de minha parte: não foi nada: disponham...)

sábado, setembro 24, 2005

Yi Jig (1362-1431)

Garça
não rias
da gralha
negra
*
Negra
por fora
também o será
por dentro?
*
Branca por fora e negra por dentro
só tu
quem sabe
*
(tradução Yun Jung Im e Alberto Marsicano)

sexta-feira, setembro 23, 2005

Diálogos: malditos diálogos!

- Diga 33:
- Tlintaitlês.
- Não: sem brincadeira: diga 33:
- TLINTAITLÊS!
- Putz: não dá mesmo pra falar sério com você...
- Sério? Mas você não está só brincando também com esse auto-exame médico só pra praticar declamação de poesia usando o poema PNEUMOTÓRAX, de Manuel Bandeira?
- É: mas é sério: (em tom de comando:) respire!
- Putz: desisto: o que é que eu tou fazendo aqui?
- Você está querendo blogar, mas não consegue mais uploadar nenhum arquivo jotapegê da sua máquina, e isso te irrita e te atrasa porque você queria postar uma foto, e além disso você também quer postar sobre (e linkar) o Domingos Pellegrini, cujos livros você tem lido adorando, mas teve também o problema que te deixou hamletianamente hesitante que foi o Domingos ter acabado de postar defendendo de novo a criação de um Estado do Iguaçu, separando fora a cidade (CURITIBA) em que você mora...
- Porra: comé que você sabe tudo isso?
- É que eu sou você mesmo.
- Ah: então posso chamá-lo de mim mesmo?
- Sim: e eu acho que vou chamá-lo de George (djÓdj), certo, djódji? Você vai ser o meu amigo djódj...
- Certo, djÓÓÓÓdjjj... Mas sem brincadeira: teu time ganhou!
- Mas que time é meu?
- Bangu:
- Bola na rede, e...

(complete o diálogo nos comentários)

sexta-feira, setembro 16, 2005

The rival´s arrival...

The Rival
A Rival

If the moon smiled, she would resemble you.
Se a lua sorrisse, vocês se pareceriam.
You leave the same impression
Você deixa a mesma impressão
Of something beautiful, but annihilating.
De algo belo, porém aniquilador.
Both of you are great light borrowers.
Vocês dois são grandes refletores de luz.
Her O-mouth grieves at the world; yours is unaffected,
A boca oval dela enluta-se pelo mundo; a sua é inafetada,

And your first gift is making stone out of everything.
E seu dom primeiro é fazer de tudo pedra.
I wake to a mausoleum; you are here,
Eu acordo para um mausoléu; você está aqui,
Ticking your fingers on the marble table, looking for cigarettes,
Tamborilando os dedos na mesa de mármore, procurando cigarros,
Spiteful as a woman, but not so nervous,
Despeitada como uma mulher, mas não tão nervosa,
And dying to say something unanswerable.
Morrendo para dizer algo irrespondível.

The moon, too, abuses her subjects,
A lua, também, rebaixa seus assuntos,
But in the daytime she is ridiculous.
Mas, de dia ela é ridícula.
Your dissatisfactions, on the other hand,
Seus desgostos, por outro lado,
Arrive through the mailslot with loving regularity,
Chegam pela caixa de correio com amorosa regularidade,
White and blank, expansive as carbon monoxide.
Brancos e vazios, expansivos como dióxido de carbono.

No day is safe from news of you,
Nenhum dia é livre de notícias suas,
Walking about in Africa maybe, but thinking of me.
Andando pela África talvez, mas pensando em mim.


Sylvia Plath

Traduzida por Marina Della Valle
e postada em www.acidkiss.com/meetzamonster,
no dia 8 de dezembro de 2002.
Furtada e ligeiramente editada por Ivan Justen Santana

quinta-feira, setembro 15, 2005

Além da imaginação, só a sacanagem...

*
Batatinha quando
Se esparrama pelo
Menininha quando
Põe a mão no

***
o trecho acima foi mirabolado por Marcos Prado de Oliveira, tendo sido furtado pelo seu eterno

Ladrão de Idéiazinhas Sacanas Sobre Versinhos Superpopulares

***
esta transcrição foi um oferecimento de

ossurtado.blogspot.com,

já que você veio até aqui procurando trepadas, que tal ler todas as postagens desde julho de 2004, conferindo também os comentários?

terça-feira, setembro 13, 2005

CARDIOLOGIA COMPARADA

Eu só sei que
Furacões tropicais
Tormentas inclementes
Incêndios nas savanas
Maremotos ancestrais
Calotas polares derretendo
Jorros de lava incandescente

Têm que caber no espaço apertado do meu ventrículo esquerdo


***

o poema acima foi postado pelo meu amigo Ratapulgo, no dia 6/07/2003 - portanto, muito antes da Tsunami no Índico e do Katrina em New Orleans e adjacências...

Ratapulgo foi o cara que me mostrou como era legal rapinar os blogs alheios, uma prática que resultou no inigualável Copy and Paste

(maiores desinformações no Sinistro, donde o poema acima foi sub-repticiamente recortado)

Já chegaram até a pensar que eu era apenas mais um difarce do Ratapulgo...

Numa dessas...


Assinado: Ladrão de Postagens em Crise de Identidade

domingo, setembro 11, 2005

VALSA BRASILEIRA

Vivia a te buscar porque pensando em ti corria contra o tempo
Eu descartava os dias em que não te vi
Como de um filme a ação que não valeu
Rodava as horas pra trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho pra encostar no teu

Subia na montanha não como anda um corpo mas um sentimento
Eu surpreendia o sol antes do sol raiar
Saltava as noites sem me refazer
E pela porta de trás
Da casa vazia
Eu ingressaria
E te veria
Confusa por me ver
Chegando assim mil dias antes de te conhecer

Chico Buarque & Edu Lobo
(duas das vítimas mais notórias do Ladrão de Postagens)

***

UMA BREVE POSTAGEM PRA NÃO PERDER O COSTUME

11 de setembro de 2005:

Hoje meu avô faria 88 anos.
A queda das torres está fazendo 4 anos.
Hoje eu pensei em exatamente 22 razões pra viver e morrer:
estou virando um criminoso tão sentimental que vou acabar pilhando meus próprios textos.

Não percam, após a meia-noite: entrevista bombástica deste seu criado no

polacodabarreirinha

quarta-feira, setembro 07, 2005

UM ASSALTO À VILA DE PIRATININGA EM PLENO SETE DE SETEMBRO

Clara Mcpiffs

Ana Clara é a mulher mais bonita deste mundo. Não conheço outros mundos. Ana Clara tem um tipo de beleza que se renova, que inclui na beleza a própria reafirmação. Foi linda a Clarinha sem seios. Quando os seios cresceram, senhorita Clara tornou-se linda. E já era antes. A beleza da jovem e desejada senhorita Clara transformou-se, após o casamento, na beleza da desejada, desejo jamais declarado, senhora Ana Clara Mcpiffs. Linda, sempre, e sempre diferente. A linda senhora Mcpiffs de segunda passada não era a linda senhora Mcpiffs de ontem. E a de anteontem, não a vi neste dia, era a linda senhora Mcpiffs que, por não tê-la visto, imaginei.

Ontem, Ana Clara foi atropelada. Uma perna e uma orelha destruídas, a cabeça amassada. No hospital, antes de a morte ser declarada, enquanto a reanimavam, arrancaram-lhe a perna e a orelha, e deram uma desamassada na cabeça. Acabo de voltar do enterro. Ana Clara, com seios, sem uma perna e sem uma orelha, é a mulher mais bonita deste mundo.


o autor deste texto se chama Tony Monti:
visite o blog de Tony Monti:
Tony Monti é meu amigo.
Eu furtei este texto de Tony Monti:
isso é uma gravação:
o ladrão de postagens não está mais aqui viajou

segunda-feira, setembro 05, 2005

A contumácia do ladrão de postagens...

A palavra amor tem a mesma gravidade do arrependimento. Não dá mais para dizer que se ama, assim como não dá mais para dizer que se pegou gripe. O medo de amar está na vontade de se afastar daquilo que é doente. O medo de falar está na velhice mal acabada que se desenvolveu na infância. A boca não dá tréguas ao infeliz que não sabe amar. A boca fecha portas ao mal amado. Nada pode ser pior do que não escutar a voz da pessoa que se ama. É na cor do tom da voz que se sabe quando se mente ou não. Desconhecer a realidade é ser um analfabeto das imagens do mundo. Não admitir que se é amado é perseguir a si mesmo num mundo analfabeto. Não amar é ser um analfabeto em sentir tudo.

o grifo é meu: o texto é de Alexandre França:

visite:

http://alexandrefranca.blogspot.com

e denuncie-me se quiseres...

Carinhosamente,

do seu

Ladrão de Postagens

sábado, setembro 03, 2005

O ladrão de postagens volta a atacar...

o texto seguinte não é, mas poderia ter sido, uma postagem do semtemposemchance: tome cuidado: você pode ser a próxima vítima do nefasto ladrão de postagens...


FLASHBACKSUMMERGIRLSCIENCE

tudo começou numa tarde de verão andava rápido esperando não chegar tão rápido a nenhum lugar na esquina da xv com a barão a boca seca meu calo ardia dentro do nike sujo latejava em busca de ar e vegetava inerte pela falta de vento por um momento achei ter visto um oásis ela sozinha caminhando na calçada já na altura da universidade toda de branco fazia eu acho medicina ou odontologia menina a alva deusa se aproximava e meu olhar cansado perseguia a indivídua deusa por si só queimada pelo deus sol atrás da roupa branca o velho de paletó parou pra ver a deusa no meio da rua o homenzinho verde começou a piscar um ônibus pegou o velho meu olhar acompanhava devagar sem pombas para o velho que se estatelava no asfalto rubro-negro com o sangue do velho a deusa olhou pra trás médica então que era correu pra socorrer pobre homem desejei seu lugar naquele instante sentir a deusa morena tocando minha cabeça rachada ah a alva veste da doutora deusa recebeu coloração rubra que nem o branco dos meus olhos num calor de sol a pino branco com rubro rosa choque o ônibus a aurora o rosa a deusa a menina a medicina salve o progresso da ciência salve-a consciência

Flávio Jacobsen

sexta-feira, setembro 02, 2005

Alegria de blogar

blogar é terapêutico mesmo, e não dá pra evitar a alegria da coisa quando podemos até saber o que é que as pessoas digitaram nas máquinas de busca pra chegarem ao nosso blog herói:

hoje apareceu alguém atrás de VERSINHOS LINDOS...

normalmente pipoca gente querendo TREPADAS & BUCETAS CABELUDAS...

estou até pensando em postar de novo um poema que fala de BUNDAS REDONDAMENTE REDONDINHAS...

Temos atrações para todos os gostos:

leia, comente, adore e afague...

quarta-feira, agosto 31, 2005

PERIGO! WARNING! DANGER! KEEP OUT! EU AVISEI...

... E ATENÇÃO ATENÇÃO TODOS OS CARROS! O LADRÃO DE POSTAGENS ESTÁ À SOLTA! TODOS OS MEANS NECESSÁRIOS DEVEM SER USADOS NA SUA CAPTURA, CASO CONTRÁRIO... o quê? quem está aí? SOCORRO, É O LADRÃO DE POSTAGENS, GUARD...

*baque surdo de um corpo no chão*

"haha, roubar uma postagem e postar do próprio computador da vítima... hehehe..." riu consigo silenciosamente o ladrão de postagens, enquanto abria mais uma janela do explorer...

alguns minutos depois...
"pronto: aqui está um poema pra encantar serpentes..."

Jardim de Jasmim

Para Augusto de Campos

Mar de pranto, monte de gemidos,
procuro uma primavera que me dê ouvidos,
luz para os meus olhos perdidos
e alívio para os males que maldigo.
Mas, traidor de mim mesmo, trago comigo
o amor-morte e suas bruxarias
que transformam em horror as maravilhas.
E para que o paraíso não apenas aparente
eu chego junto com a serpente.

Antes o frio do inverno venha congelar
o sol deste lugar
e a neve deixe prateada
a floresta a rir em minha face resfriada.
Mas para que possa padecer
o sofrimento sem desamor, deixe-me ser, amor,
como eu sou, sem tirar nem pôr,
milagre de mágoa
ou vale de lágrimas a fluir de um olho d'água.

Recolham então, amantes,
meu pranto-fel de amor
e comparem com prantos semelhantes
que mentem, se não têm igual sabor.
O coração não bate em todo olhar,
as lágrimas da mulher nem sempre são
a imagem real, a legítima expressão,
oh, sexo perverso, falsa mente-mulher,
a fêmea veraz que me assassine se puder.

Antonio Thadeu Wojciechowski

segunda-feira, agosto 29, 2005

Balanço do Perhappiness 2005 & outras bossas

Foi curto, mas foi bem bom: enchi bastante o saco nas mesas redondas, mas não estava surtado nem fora das condições normais de temperatura e pressão, então acho que não passei dos limites do suportável...

Os destaques pra mim foram o meu amigo William Teca, que falou bem à vontade na mesa de abertura, e o Sílvio Back, que mandou bem os seus poemas eróticos na mesa redonda final:

e também, claro, a bela artista Ana Clara, que, acompanhada pelo pianista virtuose Fábio Cardoso, perpetrou um belíssimo espetáculo poético, deixando meu corpo e alma babandos (assim mesmo: no plural verbal...)...

Depois disso, no domingo, visitei um grande amigo, o poeta Márcio "Cobaia" Goedert, e tertuliamos bastante durante uma tarde de verão no inverno curitibano...

Agora só falta você.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Singela homenagem aos 61 anos de Paulo Leminski

Para o gáudio da minha imensa audiência, aqui estão, na minha imodesta opinião, depois de uma rigorosa seleção, os versos mais cheios de si da poesia brasileira...

E os vencedores são:

"Chama o saci: Si si si si!"

(do poema Berimbau, de Manuel Bandeira)


"Parecia fora de si
a sílaba silenciosa."

(do poema Desencontrários, de Paulo Leminski)

Aplausos em tom de si maior, por gentileza...

terça-feira, agosto 23, 2005

Um poema de 1997, ainda atual

*
- Cuidado, ô seu pateta! -
alguém grita e me avisa.

Me desculpem: talvez eu seja um poeta,
mas nunca me livrei das mangas da minha camisa...

domingo, agosto 21, 2005

Postagem tripla

Pra compensar o fim de semana em branco por aqui, três coisinhas muito fofas:
(sem contar a goleada do Atlético sobre o são paulo no sábado, que eu nem quero comentar agora, senão é capaz de eu ficar rouco e louco de novo com a gritaria e festejos...)

a) nesta semana acontecerá o Perhappiness: programação completa aqui.

b) frase da hora, colhida no blog do meu amigo Thadeu:

"Apesar de atleticano de nascença, muitos dos meus melhores momentos foram passados entre coxas."

José Alberto Trindade

c) poema espetaculoso feito a quatro mãos (duas com o copo e duas com o lápis) por este seu criado e o grande poeta curitibano Edílson Del Grossi, nos idos de 1993, no balcão do bar Dolores Nervosa, com a regra de que cada um faria apenas um verso por vez:

cadê o mote?
o mote é o bar
então não vale mais morrer
ou não beber até cair
se bobear de novo erguer
salvas de festim
dormir em pé
não é
tão difícil assim

do bode não vai soçobrar nada
o copo só termina quando acaba
e a conta é paga pela namorada

ou então dança
dança que barata não tem calo
pede outra já escorrendo pelo ralo
descola uma morena por tabela
a caminho da valeta
tanto presta esta
quanto aquela

às vezes pêndulo
às vezes badalo
ora ela fela
ora eu falo

uma sopa
um sopapo
uma sapa
e fim de papo

hahahaha
hohohoho
vamos parar por aqui
já rimamos à beça
rima que nunca termina
também não começa

fifteen men and a bottle of rum
cinco
quatro
dois
ops
três dois um

quinta-feira, agosto 18, 2005

Leminski nosso de cada dia no mês do cachorro louco

Ler um poema
____________dá sorte
principalmente

________se for
algum

_______que
fale da morte

___como
quem

_______fale
___________de
____________amor



p. leminski

86


terça-feira, agosto 16, 2005

uma puta postagem a fuder

Putz, que merda, caralho, putaquepariu, que fóda, que puta buceta cabeluda do caralho de merda porra louca da gota serena...

Bem, vamos dizer que eu tenho algo a blogar (porra, atenção: o cara tá bêbado e tem algo a blogar: : :..............

Eu tinha que blogar faz tempo: senão vejamos:

Como?!?!?

Como?????????!!!!!!!!!!!!!

Como blogar o seguinte?:

a Tati (Tati Lemos, ex-vocalista da MORDIDA), pra quem eu dediquei uma postagem-letra (é especial postar letras de canção num blog, por mais banal que pareça) está em Londres (LONDRES = LONDON LONDON = SWINGING LONDON = onde moraram James Marshall Hendrix e Gustav Friedriech Mahler) onde houve algo difícil de explicar:

os caras grampearam um brasileiro com sete tiros na cabeça: porra: existe outra reação que não seja: putaquepariu!!!!!!!!!!!!!

Claro que houve um atentado terrorista e eu não bloguei nada disso (e houve um submarino, e uma nave espacial, e um assalto retirado duma história de Sherlock Holmes, e eu nem bloguei nada disso...)...........

Enquanto isso, em Gotham: não sei que merda é essa que não faz as pessoas surtarem todas duma vez: eu fico blogando sonetos, traduzindo poemas, assobiando como quem finge não estar participando dessa FÓÓDA toda...

Mas basta uma pequena dosagem suficiente no sangue e eu posto (com agudo ó) essa inqualificável puta agonia aqui dentro do peito: se era pra postar do meu time, então:

Time fodido: que tem que fazer 5 (CINCO) gols por jogo, porque vai tomar uns 3 ou 4 (nos bons tempos eu diria: É: É ISSO AÊ: TOMA TRÊS, FATURA CINCO: BELEZA......)....

Então: várias coisas que ocorreram não blogadas: mas o MAIS (plus ultra) tem que blogar: estava de ressaca mortal de um dia inteiro e vi o pronunciamento do presidente: a cada 3 (TRÊS) frases o cara tinha que virar a página: que merda: é o retrato perfeito: um apedeuta presidente a provar que qualquer besta, qualquer grande mentecapto pode representar este país...

Bem, voltando para um clima mais palatável: gostaria de escrever a quem me leu até aqui que nada disso vale qualquer esforço: eu não vou blogar isso estou blogando isso que porra é blogar isso foda-se que estou blogando isso vá tomar no meio do seu cu que estou blogando isso sinta-se ofendido(a) que estou blogando isso e eu queria gentilmente blogar algo melhor que isso tipo: *golada de vinho*

sábado, agosto 13, 2005

OS NUNCAS. ESSES NUNCAS QUE SÃO NADA

Os nuncas. Esses nuncas que são nada,
Nadas de vida, nadas de alegria,
São nuncas a bradar a boca fria
Do tempo nunca em sempre disparada.

Nunca o teu beijo. Nunca será dada
A glória do teu ventre. Nunca o dia
De uma só noite nunca terminada
De amar-te como nunca. Dor vazia

Do passado, meu nunca. E do presente
O sempre nunca me apunhala; e à frente
Um futuro de nuncas que se junca;

E do clamor de sempre, nunca eterno,
Primavera, verão, outono, inverno,
Tu, sempre minha, tu, que és minha nunca!

Guilherme Figueiredo

quarta-feira, agosto 03, 2005

Inferno de portas abertas

Aí está: agosto chega que chega baixoastralizando a minha existência. Senão vejamos:

ontem à noite coloquei minha filha num ônibus de volta pro Rio de Janeiro: seguiu-se um filme já visto: a primeira noite de um homem solitário.

Estou devendo umas contas no bar do Torto, o que é bom, por um lado, e muito ruim, por outro.

Estou devendo uma grana do conserto (não do concerto) de um violão na Chefatura, o que é totalmente ruim.

Estou devendo duas contas de telefone (ou melhor: seis): péssimo, péssimo...


Mas, por outro lado, inversamente, os dias que se aproximam prometem: é só arranjar a grana, pagar as contas, reencontrar as pessoas, voltar a trabalhar com palavras: vai ter lançamento da biografia do Torquato Neto aqui em Curitiba... E logo amanhã tem outro lançamento, de poemas do Bukowski traduzidos pelo meu amigo Koproski.

Nada mais a fazer a não ser dizer: let´s play that.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Diálogo síntese

das férias que minha filha Rubinha, de quatro anos de idade, veio passar comigo neste Julho:

- Filha, vamos ler o livrinho dos Gatinhos Travessos?
- Vamos!

Leio o livro pra ela, e vemos as ilustrações juntos. Na contracapa está o anúncio dos outros títulos da coleção:

- Olha só, filha: você quer ler o dos Cachorrinhos Brincalhões?
- Quelo!
- E o dos Coelhinhos Saltitantes?
- Quelo!
- E o dos Pintinhos Graciosos?

Ela me olha, interrogativa. Sua mãe, que ouviu a conversa de longe, gargalha com o meu tom malicioso-ingênuo na pergunta: "E o dos Pintinhos Graciosos?"

A criança fica ainda mais confusa, e eu fico com aquela sensação de um certo alívio por enquanto, pressentindo o perigo no horizonte: daqui a dez anos acho que não vou lembrar disso dando risadas...

quinta-feira, julho 28, 2005

Vale por sete postagens

já que meus versinhos não estão emplacando, vou postar uma pá deles, pelo menos os que eu lembrar agora, hipomaníaco com o massacre perpetrado por nosso time herói: 7 x 2 no vasco da gama (time que já ganhou invicto a libertadores, admita-se essa lembrança...)

***

a poesia

hoje em dia

é assim:


não vale nada pra ninguém

vale muito pra você

mas vale mais

pra mim


***

TRATADO COMPLETO DE MÉTRICA HAIKU


cinco no primeiro

no segundo sete sílabas

cinco no terceiro


***


quem ontem agia

que monte magia



***


somos de tudo um pouco

somos de nada muito



***

rápido:
me traga
outro trago

aproxima de mim
esse cálice sagrado

já bebi litros
mas não me sinto
diferente:

o peso líqüido do meu corpo
não foi suficiente


***

quando anoitece
a noite tece
sete setas
e descem
dezessete ratos
pelas quatro
rotas retas

boi morto
ruminando
rumo incerto
pasta solto
no deserto

renê descarta
uma canastra real:
espanto
parto
pranto
ponto final

domingo, julho 24, 2005

Psicose Maníaco-Futebolística

Bem, então tá: vamos lá, blogar com mais gusto: ontem, jogando num charco (a autêntica várzea), nosso time herói afundou novamente nos pântanos da derrota:

este é um time putanheiro mesmo: já está querendo voltar pra zona.

Estes tempos li num diário mínimo de Umberto Eco o horror que este sentia por gente (especialmente taxistas) que vai falando de futebol com você como se todo mundo se interessasse e soubesse tudo a respeito (na Itália como no Brasil).

Já que o time perdeu, era melhor nem ter mencionado nada, postando logo o poema feito neste domingo de manhã:


com afeto e com afinco
fiz o amor e a amargura
fiz as hastes da tua astúcia
e das tuas artes veio a argúcia
que de abraços foi segura
por teu urso de pelúcia
com afinco e com afeto
fiz tua rumba preferida
fiz os haustos dos teus claustros
e dos rastros caíram astros
que pisavas distraída
com afeto e com afinco
com efeito e bem de fianco
fiz do fim da morte vida
e do seu vazio repleto
com afinco e com afeto

quinta-feira, julho 21, 2005

Sobre o jogo de ontem à noite

Onze mil fiéis na Arena:

tinha uns cem torcedores adversários,

dum timinho carioca aí chamado fluminense,

momentaneamente nas cabeças da tabela...


Nosso time herói, surtado como sempre:

tomamos o primeiro gol e viramos pra 2 x 1

ainda no primeiro tempo:

na segunda etapa do prélio,

sofremos o empate e marcamos o tento da vitória:

3 x 2

saindo da zona do rebaixamento:

foi bom pra você também?

domingo, julho 17, 2005

bouncing back

depois do pesadelo de quinta-feira, hoje ricocheteamos, como bom time bipolar: derrotamos o galo no mineirão por 3 x 2, deixando imediatamente a lanterna ali em BH.

É emocionalmente desgastante postar com o time: eu preciso saber evitar: mas como?

O sentimento diagonal não me deixa quieto: vamos ouvir aquela novamente?

sexta-feira, julho 15, 2005

o eterno se

se tivéssemos jogado a primeira partida em casa...

se Lima tivesse batido o pênalti...

se Dago não estivesse contundido...

se Jadson e Washington ainda jogassem no time...

se Fabrício não estivesse numa noite tão infeliz...

se a realidade fosse mesmo melhor que a ficção...


outrossim, confirma-se a vocação bambi do time sãopaulino: choraram na comemoração dos gols (um deles impedido) e só faltou fazerem aquele bolinho de gente pra meterem o dedo uns nos outros (devem ter deixado isso para o vestiário, junto com aquele médico boiola...)

Bem: o bom é que derrubamos o muro e ano que vem a Arena estará finalmente pronta: neste ano, o negócio é evitar a queda pra segundona e surrar de novo os coxinhas no brasileiro, agora no chiqueiro deles...

O drama virou tragédia, mas nosso time herói é brasileiro, e não desiste nunca.

quinta-feira, julho 14, 2005

hoje é o dia:

aniversário da queda da bastilha:

logo mais nosso time herói vai tentar derrubar outro estado de coisas:

o terceiro, o quarto e (quiçá) o quinto e o sexto atos desse drama estão prestes a se desenrolar...


meu coração está que é uma bola de sangue...

domingo, julho 10, 2005

amores gris

meus atletibas ultimamente andam meio grenais:

este 1 x 0 foi pouco, mesmo com o time reserva:

o fato é que recentemente jogamos "em casa" no beira rio,

e desta feita o público total foi só de 16.344 criaturas

(numa arena que agora comporta 41 mil...)


mas como eu não fui, não posso reclamar:


e hoje não foi um dia triste,

mas foi um dia frio,

e toda fragilidade incidiu,

e o pensamento era um lá

(às vezes maior, ora menor)

e tudo me dividiu

e eu esperava com a força do pensamento

criar a luz pros meus amores gris

(que rimam com _ _ _ _)


* chute uma letra...

quarta-feira, julho 06, 2005

O drama se adensa:

nosso time fez mais um gol no segundo tempo:

pena que foi contra:

Atlético 1 x 1 são paulo

O terceiro ato promete...

Final

do primeiro ato:

o drama vai se desenrolando:

Atlético 1 x 0

gira o placar no beira rio...

Chove em Porto Alegre:

o Furacão ainda nem passou.

glosando um mote ludopédico com um soneto escataclético

Tudo que eu sempre quis te dizer:
O jeito exato com que eu te amo,
Tua maneira de me dar prazer
E toda a gama que gamo gamo:

Todos os fogos que me botam frio,
A tragédia coríntia na qual me abismo,
O fluido flamívomo que eu arrepio,
As graduações grenás do cataclismo,

Tudo, tudo mesmo, tudo tudo:
Os mas, os entretanto e os contudo
Que eu quis tirar do fundo-coração:

Toda essa beleza ora jaz congelada
Porque tudo no futebol vira nada
E daqui a pouquinho começa o jogão.

domingo, julho 03, 2005

ROTEIRO LITERÁRIO DESTE DOMINGO À TARDE

“Os mensageiros do amor deviam ser os pensamentos”.

If the dull substance of my flesh were thought,
Se a minha carne fosse pensamento
Injurious distance should not stop my way;
A distância jamais me reteria;
For then, despite of space, I would be brought,
Que apesar dos espaços, num momento,
From limits far remote where thou dost stay.
E de bem longe, a ti eu chegaria.
No matter then although my foot did stand
Que importa onde o meu pé pudesse estar,
Upon the farthest earth removed from thee;
Em que terra de ti tão afastada?
For nimble thought can jump both sea and land,
O pensamento salta terra e mar
As soon as think the place where he would be.
Só de pensar na terra desejada.
But, ah! Thought kills me that I am not thought,
Morro ao pensar que não sou pensamento,
To leap large lengths of miles when thou art gone,
E que sonhar distâncias não consiga;
But that, so much of earth and water wrought,
Sou feito de água e terra, os elementos
I must attend time´s leisure with my moan;
Que ao tempo ocioso e à minha dor me obrigam.
__Receiving nought by elements so slow
__
De lentos elementos me resigno
­__But heavy tears, badges of either´s woe.
__
A ter somente as lágrimas, seus signos.


The other two, slight air and purging fire,
Os outros dois, ar leve e fogo puro,
Are both with thee, wherever I abide:
Onde quer que eu esteja, estão contigo:
The first my thought, the other my desire,
Um, meu pensar, outro a paixão que apuro,
These present-absent with swift motion slide.
Presente-ausentes, deslizando ambíguos.
For when these quicker elements are gone
Quando esses ágeis elementos vão
In tender embassy of love to thee,
– Terna embaixada que o amor transporte –
My life, being made of four, with two alone
Minha quádrupla vida (em dois, então)
Sinks down to death, oppressed with melancholy.
Melancólica afunda até a morte.
Until life´s composition be recured
E até que a vida em mim se recomponha,
By those swift messengers returned from thee,
Retornados de ti os mensageiros,
Who even but now come back again, assured
Espero – e que as notícias mais risonhas
Of thy fair health, recounting it to me:
Tragam de ti e eu me refaça inteiro.
__This told, I joy: but then no longer glad,
__
Aí me alegro; mas torno ao começo,
__I send them back again, and straight go sad.
__
Que os comando de volta e me entristeço.

William Shakespeare (1564-1616)
Sonetos 44 e 45 (1609)

Tradução de Jorge Wanderley (1991)

seleção textual (terra),
digitação (ar),
arte (fogo)
situação (água)

e autoria espúria:

Ivan Justen Santana

sábado, julho 02, 2005

DEZ MOTIVOS PRA FICAR IRRACIONAL JUNTO CONTIGO

– Porque nunca falou quem não queria;
– Porque sempre sofreu quem não sabia;
– Porque um belo dia chegou quem não devia;
– Porque a sala nunca está meio cheia nem meio vazia;
– Porque as sereias são quentes mesmo na água fria
– Porque teve até uma noite em que eu dormi na pia;
– Porque o teu silêncio é a alga da minha algaravia;
– Mas sobre tudo por dois motivos:
a minha prosa

e tua poesia.

sexta-feira, julho 01, 2005

Solte o grito na garganta

e confira comigo no replay:

depois dum primeiro tempo bisonho, quando por meio triz não tomamos mais dois gols além do tento assinalado, sobrevivemos, atleticanos e fagueiros, conferindo duas vezes a rede mexicana (tradução: chivas guadalajara 2 x 2 Atlético Paranaense: estamos na final do torneio continental mais importante das américas: as postagens anteriores foram proféticas: eu já sabia que eu já sabia).

Quanto a este blog, o Delírio morreu: as tatuagens de acne continuam gravadas na minha pele, mas agora vamos a uma fase de relaxamento: ranja os dentes e feche os olhos...

quarta-feira, junho 29, 2005

Celebrando o aniversário bem acompanhado por Priscylvia

***
Gralha Negra em Clima Chuvoso

Sylvia Plath

No ramo rijo lá em cima
Curva-se uma negra gralha molhada
Arranjando e rearranjando suas penas na chuva.
Eu não espero que um milagre
Ou um acidente

Incendeiem a vista
No meu olho, nem busco ver no
Clima desultório intencionalidade alguma,
Deixando folhas manchadas caírem como caem,
Sem cerimônia, nem portento.

Embora eu admita
Desejar, ocasionalmente, algum retruque
Da parte do céu mudo, não posso reclamar: uma
Certa luz menor ainda é capaz de
Saltar incandescente

Da mesa ou da cadeira da cozinha
Como se um ardor celestial pudesse
Possuir os objetos mais obtusos vez por outra –
Destarte santificando um intervalo
De outras feitas inconseqüente

Ao outorgar largueza, honra, dir-se-ia
Mesmo amor. Agora, de qualquer jeito,
Ando suspicaz (poderia acontecer até numa
Paisagem baça, ruinosa como esta); desconfiada,
Mas engajada; ignorante

De algum anjo que resolva refulgir
Subitamente ao meu cotovelo. Só sei que
Uma gralha ajeitando as penas negras fulgura
Tanto que me prende os sentidos, arrasta
Minhas pálpebras, e fomenta

Um breve alívio da temida
Neutralidade total. Com sorte,
Trilhando teimosa através dessa estação dura
De fadiga, vou remendar
Todo junto o monte

De conteúdos. Milagres se realizam,
Se você se importa em chamar assim tais truques
Espasmódicos de radiância. A espera se reinaugura,
A longa espera pelo anjo.
Por aquele raro, randômico descenso.

Versão brasileira: Ivan Justen Santana

Seleção textual e musa inspiradora: Priscila Manhães

terça-feira, junho 28, 2005

Um lindo dia para matar

Pois é:

esta é a octogésima postagem do Delírio (Tatuagens de Acne). Depois Daquele Surto e Morte Súbita duraram 40 postagens cada um, então acho que está na hora de matar este blog mais uma vez.

No entanto, amanhã essa minha história de blogar completa um ano: estou organizando uma festa de aniversário surpresa e você é meu(minha) convidado(a) especial.

Portanto, vamos deixar a história de assassinato pra amanhã: agora é tarde, eu acho que vou dormir.

segunda-feira, junho 27, 2005

Abrindo agora o Catatau do Leminski feito um I-Ching:...

(...)Ida de noite e volta do dia, só penso em ti, quero me alistar: para cá, para lá, é só tu que voa. Em alguém tão longe como posso pensar tanto mas talvez assim foi o melhor: de perto ou lado a lado pensaria menos em quem ali estivesse, vista para ser, pensada não. Pensar me deixe que estou exatamente nesse teu ali e saber que não estás tão minha neste aquizinho. Eu: o último sabedouro, primeiro em pensar que não estamos indo bem ao encontro um do outro no nosso relacionamento. O mundo não deixe pensar que soubemos de tudo: doutrarte, o crivo de perguntas não nos deixaria prosseguir com a sorte que até aqui nos bafejou de fumos de vaidade, emboscadas tártaras, ataques de corsários, caixas pandóricas, precipitações pindáricas, paradoxos suspeitos, apatias peripatéticas e das inarredáveis prolixidades preliminares! Já que outra coisa não faço que penetrar a adiante dentro donde estás sendo pensada a fundo, saiba-me interesseiro em tudo que te diz: respeito! Caso contrário: que fazer quando em noite longa já pensei todos os teus teus, e começo a falar bobagem e o que é mais, sozinho! – como se já não bastasse o estado em que me tem a postos tempos e tempos. Fosse ímã e tu vontade férrea, meus pensamentos te trouxessem até a mim! (...) Manda que eu pense numa parte muito tua, mesmo íntima, e terei muito menos prazer em estrupá-la! (...)

domingo, junho 26, 2005

Postagem Parabéns

Só pra não passar batido o duplo aniversário da minha "mentora blogueira":

(aniversário de blog e de vida)

o presente é o link (minhas parcas musas me limitam a isso):

http://palavradepantera.blogspot.com

Vão lá e leiam tudo:

eu vou ficar aqui meditando nalgum poema que pudesse traduzir o quanto admiro essa criatura fantástica...

sexta-feira, junho 24, 2005

Uno, Dos, Três!

Putz: ainda estou atordoado, acachapado, eletrizado: do mesmo jeito que contra o Santos, quando já nem esperava ir ao estádio um ingresso aparece nas minhas mãos: desta feita fiquei na curva, junto com a torcida Os Fanáticos:

resultado: Atlético 3 x 0 Chivas Guadalajara

Semana que vem jogaremos lá no México, no estádio Jalisco, onde a seleção brasileira disputou a primeira fase da copa de 70 (o tricampeonato, que por sinal está completando 35 anos)...

Hoje não tem poema: só um brinde com uma dose de Chivas e três pedrinhas...

quinta-feira, junho 16, 2005

Placar agregado (quartas-de-final da Libertadores)

CLUBE ATLÉTICO PARANAENSE: 5
santos: 2

Putz: vitória histórica do Furacão na Vila Belmiro: a postagem anterior, vermelha e preta, deu sorte: agora vou postar um poema do Leminski, pra não perder o costume...


quero a vitória
______do time de várzea

valente

covarde

_____a derrota
_____do campeão

5 x 0
_____em seu próprio chão

___________________circo
___________________dentro
___________________do pão

quinta-feira, junho 09, 2005

Le rouge et le noir

STILLBORN
NATIMORTOS

These poems do not live: it’s a sad diagnosis.
Estes poemas não vivem: é um diagnóstico triste.
They grew their toes and fingers well enough,
Criaram bem seus dedões dos pés e dedos das mãos,
Their little foreheads bulged with concentration.
Suas testinhas se protuberaram de concentração.
If they missed out on walking about like people
Se faltaram em perambular como pessoas
It wasn’t for any lack of mother-love.
Não foi por nenhuma falta de amor-de-mãe.

O I cannot understand what happened to them!
Ó não posso entender o que aconteceu com eles!
They are proper in shape and number and every part.
São plenos em forma e número e cada parte.
They sit so nicely in the pickling fluid!
Sentam tão bem no fluido de picles!
They smile and smile and smile and smile at me.
Sorriem e sorriem e sorriem e sorriem pra mim.
And still the lungs won’t fill and the heart won’t start.
E ainda assim os pulmões não enchem e o coração não bate.

They are not pigs, they are not even fish,
Não são porcos, não são nem mesmo peixes,
Though they have a piggy and a fishy air–
Apesar de terem um arzinho de porco e peixe–
It would be better if they were alive, and that’s what they were.
Seria melhor se estivessem vivos, e isso eles estiveram.
But they are dead, and their mother near dead with distraction,
Mas estão mortos, e sua mãe quase morta de perturbação,
And they stupidly stare, and do not speak of her.
E fitam estupidamente, e dela não falam a respeito.


Sylvia Plath
Ivan Justen Santana

segunda-feira, junho 06, 2005

O Sorumbático Homem Mosca

*
Cuidado!

O Homem Mosca está à solta:

se você estiver num bar, ele pode vir filar sua cerveja;

se você estiver de carro, ele pode pedir uma carona;

se você permitir que ele entre em sua casa, ele pode até mesmo tentar furtar seu CD favorito, seu livro predileto, ou mesmo sua velha e querida fita de VHS com o show da sua banda de estimação.

Este supervilão é perigosíssimo: toda a força necessária está sendo empregada na sua captura.

Considerem-se avisado(a)s: qualquer distração pode ser fatal...

sexta-feira, junho 03, 2005

A menina maluquinha

*
CANÇÃO DE AMOR DA MENINA LOUCA
(Mad Girl´s Love Song)

“Eu fecho os olhos e o mundo morre totalmente;
Levanto as pálpebras e tudo nasce outra vez.
(Eu acho que criei você na minha mente.)

Valsam estrelas azuis e vermelhas de repente,
E a escuridão vem a galope trajando xadrez:
Eu fecho os olhos e o mundo morre totalmente.

Sonhei que você me enfeitiçava ao leito lentamente
Com beijos excêntricos e lunáticas canções.
(Eu acho que criei você na minha mente.)

Deus cai do céu, o inferno deixa de ser quente:
Saem os serafins e as hostes de Satanás:
Eu fecho os olhos e o mundo morre totalmente.

Delirei que você voltaria como prometia sempre,
Mas envelheço e não sei nem seu nome mais.
(Eu acho que criei você na minha mente.)

Eu devia ter amado um animal bem diferente,
Um condor, que ao menos volta trovejante todo mês.
Eu fecho os olhos e o mundo morre totalmente.
(Eu acho que criei você na minha mente.)”


Sylvia Plath

Versão brasileira: Ivan Justen Santana

quarta-feira, junho 01, 2005

Blogar ou não blogar? Não tem questão:

Tenho que blogar isso.

Afinal isso é um blog: supostamente deve ter um registro pessoal, no qual fulaninho (no caso eu) conta as peripécias de sua interessantíssima vida.

Como não é interessantíssima sempre, posto só os “melhores momentos”, quando ocorrem: mas chega de metablogagem.

Ultimamente venho agüentando ver meu time perder e calado.

Já perdemos as seis primeiras partidas neste campeonato brasileiro: no ano passado, em 46 rodadas, perdemos só oito vezes: fomos vice-campeões: o campeão foi o Santos.

Nesta noite fui até a Arena da Baixada ver Atlético x Santos, pela Taça Libertadores, o torneio mais importante deste hemisfério.

Que jogo monstro: no primeiro minuto, bola na trave: quase saímos na frente: mas quem saiu na frente foram eles.

O time do Santos joga muito rápido, tocando de primeira e saindo na correria: nosso time jogou no mesmo ritmo: na verdade, mais rápido ainda, porque logo ficamos com um a menos, expulso por derrubar várias vezes o novo pelézinho santista, o famigerado Robinho, que joga feito um foguete (quando quer, porque às vezes ele desanima e anda em campo: eu vi isso no fim do jogo):

tomamos o primeiro gol numa jogada que parecia câmera rápida: daí voltamos a pressionar e saiu nosso primeiro, um cabeceio quase de fora da área: e aí viramos o jogo num rebote que o goleiro deles deu depois de uma cobrança de falta: 2 x 1: aí, aos 43 do primeiro tempo, noutro lance veloz que deixou nossa zaga parada pedindo impedimento, eles fizeram 2 x 2.

Putz.

No intervalo, eu pensava: como é que vamos segurar os caras, jogando com um a menos? Era visível que o atacante Aluísio não tinha condições, e o técnico demorou pra substituí-lo: tomamos um sufoco, mas o inesperado aconteceu: fizemos 3 x 2, numa jogada rápida igual à que eles estavam tentando fazer (não é irônico? não é belo? não é, eu me arrisco mesmo a dizer: poético?) depois conseguimos resistir à pressão, heróica e dramaticamente: enfim: vencemos.

Voltaremos a nos encontrar com o Santos daqui a duas semanas, no dia 15 de junho, véspera do Bloomsday: olha só: uma referência literária pra finalizar, só pra quem acha que futebol não tem nada a ver com literatura: e agora vou abrir outra cerveja e saborear essa vitória rara.

Afinal, futebol, poesia e delírio são isso aí.